O que esperar de 2022?


Por Natalino Borring

29/12/2021  às  14:33:54 | | views 1507



Estamos reaprendendo a viver em um mundo de incertezas políticas e econômicas


     O ano de 2021 não foi fácil e estamos reaprendendo a viver em um mundo de incertezas políticas e econômicas. Não que o fato seja novidade no Brasil, quem viveu ou conhece um pouco da nossa história sabe da resiliência da população diante de crises e momentos difíceis. A novidade foi convivermos com mais um ano de pandemia, que só começou a recuar no segundo semestre.

 

     Autoridades sanitárias atribuem o fato ao avanço da vacinação da população, que sem dúvida é um marco importante, mas não devemos nos esquecer do uso das máscaras e das medidas sanitárias de higienização e da utilização de álcool (70%) para inibir a propagação da Covid-19.

 

     Um fato animador para o mercado foi o fim das restrições, o famoso lockdown, que passou a fazer parte do vocabulário brasileiro e teve efeitos drásticos para a economia e empregos. A eficiência ou não da medida ainda é fruto de debates, sem que haja uma coesão sobre suas reais vantagens.

 

     Convivemos com muitas medidas meramente políticas que, sobre o manto da proteção à saúde, por vezes, desafiaram o senso comum. Fato concreto é que, desde os escândalos de corrupção encabeçados pelo governo Lula (2003 – 2010) e sistematizados na gestão de Dilma Rousseff (2011–2016) — encerrada através de um processo de impeachment —, empresas e empregos foram destruídos.

 

     O ano de 2016 finalizou com um recorde de 12,3 milhões de desempregados. Com a chegada da Covid-19 ao Brasil, confirmada pelo Ministério da Saúde no dia 26 de fevereiro de 2020, a situação só veio piorar. No final do primeiro trimestre de 2021, o desemprego chegou a 14,7%, segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de desempregados totalizou 14,8 milhões de pessoas.

 

     O governo tampão do presidente Michel Temer (2016 – 2018) também não passou ileso de denúncias de corrupção, mas foram tomadas algumas medidas importantes na área econômica. Destacam-se o controle dos gastos públicos e a reforma trabalhista de 2017, que culminou na liberação da terceirização para atividades-fim (Lei da Terceirização). Já a proposta de reforma trabalhista só conseguiu ir adiante no atual governo do presidente Jair Bolsonaro, iniciado em 2019.

 

     Até agora, Jair Bolsonaro conseguiu passar ileso de escândalos de corrupção. Algo a ser comemorado. Mesmo assim, não conseguiu se livrar das tentativas da oposição de inviabilizar o governo, tirando proveito da própria autenticidade das falas do presidente que, não raras às vezes destoaram do politicamente correto e foram, porque não dizer, grosseiras.

 

     O lado positivo é que posições controversas não se converteram em políticas de governo ou mesmo ameaçaram a democracia brasileira. Inexistiram medidas nesta direção, apenas oportunismo político de opositores.

 

     Não podemos esquecer do protagonismo do Supremo Tribunal Federal (STF), que na figura de alguns ministros, passou a fazer das decisões monocráticas uma forma de desautorizar as ações do Presidente da República. Foi através de uma ação do STF que os governadores ganharam, por exemplo, o direito de agir como bem entendessem em relação às medidas sanitárias para tentar conter o avanço do coronavírus no país.

 

     Ciência e política se misturaram e o grande prejuízo foi para a população que ficou diante de um jogo sujo, desafiando a própria lógica científica. Para a oposição, qualquer questionamento sobre medidas sanitárias adotadas pelos governadores em relação à pandemia era visto como “Fake News" protagonizada por negacionistas ou apoiadores de Jair Bolsonaro.

 

     O espetáculo ganhou ainda mais repercussão com a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a atuação do governo Bolsonaro (CPI da Covid-19), que acabou tendo como único objetivo desgastar o presidente.

 

     A CPI sequer foi adiante em relação a supostos desvios de verbas públicas pelo Consórcio Nordeste, superfaturamento na aquisição de respiradores do governo do Amazonas, entre diversos outros casos suspeitos.

 

     Também merece destaque a guerra de narrativas dos parlamentares a favor (minoria) e contra o governo e o tratamento diferenciado de testemunhas, chegando a constranger àquelas que pensavam de forma contrária ao grupo majoritário da CPI.

 

     Profissionais renomados na saúde que prestaram depoimentos, como a oncologista Nise Yamaguchi tiveram tratamento desrespeitoso, fato que a levou a processar o presidente da CPI, o senador Osmar Aziz (PSD-AM) e o senador Otto Alencar (PSD-BA). Alguns empresários também tiveram tratamento vexatório em razão das supostas posições políticas.

 

     O saldo mais triste é que a CPI da Covid, que teve início no dia 27 de abril de 2021 e foi encerrada com a votação do relatório final no dia 26 de outubro passado, dificilmente resultará algum fruto para a população, além dos gastos. Somente na primeira fase da CPI, entre abril e julho deste ano, foram gastos R$ 1.770.858,39 com cotas parlamentar dos senadores envolvidos. O valor corresponde a um aumento de 68% nos gastos destes parlamentares, quando comparado ao mesmo período do ano passado, quando não havia comissão. Na época, o gasto foi de R$ 1.056.651.53.

 

     Se não bastasse, vamos relembrar as articulações políticas do STF, nas quais vários acusados de corrupção, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados, ganharam a liberdade. Não devido à falta de provas, mas por entender que certas varas não tinham competência para julgar determinados processos.

 

     O ex-juiz federal Sérgio Moro, responsável por ações da Lava Jato e, principalmente, pela prisão de Lula, foi considerado suspeito pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, referendando ainda mais as narrativas jurídicas. Infelizmente, toda essa conta, mais uma vez, será paga pela sociedade.

 

     Diante de um ano bastante controverso, um pouco de esperança para o mercado financeiro surgiu com o fim do fechamento e limitações do comércio, decretado pelos governadores. As festividades de Natal e Ano Novo ainda devem ser marcadas por um decréscimo nas vendas, quando comparados a períodos pré-pandemia.

 

     No entanto, uma lição deverá ser aprendida sobre qual futuro vamos querer para o Brasil. Um País onde a corrupção vai voltar a marcar as principais páginas da imprensa brasileira, com o retorno de oportunistas ao Poder, ou uma sociedade baseada na liberdade social e de mercado, com confiança no trabalho duro e honesto, que vão permitir a construção de uma Nação realmente democrática?



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