Colunista

Zaida Ruiz Fernandez

O panorama da indústria da construção diante da pandemia da Covid-19


15/01/2021 | 00:00:00 | Visto por: 8342 leitores

     Para se ter uma ideia sobre a situação econômica no mercado desta indústria antes da pandemia, podemos mencionar que, durante 2019, as 100 maiores empresas de construção do mundo geraram 1,4 trilhão de dólares, conforme os dados do relatório Global Powers of Construction, da Deloitte.

 

     O documento também apontou que uma das prioridades estratégicas dos grupos de construção antes da pandemia foi o crescimento internacional e que os construtores europeus encabeçavam a lista de maior expansão fora de suas fronteiras nacionais, seguidos pelos Estados Unidos. Neste contexto, era destacável a crescente presença internacional dos grupos chineses.

 

     Ainda no cenário prévio à pandemia, um dos principais desafios da indústria indicados pelos especialistas da consultoria era ganhar em sustentabilidade e na eficiência de suas operações por intermédio de um melhor controle de riscos nos processos de licitação e manutenção, uma distribuição adequada dos riscos entre cliente e construtor.

 

     Outro grande objetivo para as empresas do setor estava designado pelo aperfeiçoamento na integração e gestão da rede de fornecimento, e da simplificação e digitalização dos processos construtivos e de suporte.

 

     Porém, a crise econômica e social causada pela COVID-19 quebrou profundamente todos os mercados, alterando a previsão dos gastos públicos e diminuindo a capacidade de ação e investimento em quase todos os setores em escala mundial, o setor da construção é um dos mais afetados.

 

     Diante desta drástica mudança no cenário global, analistas e especialistas começaram a revisar imediatamente suas pesquisas e previsões considerando as consequências da crise.

 

     As mudanças foram significativas. Em 2019, a indústria da construção da Espanha, por exemplo, contribuía com 10% do PIB conforme os dados do Seopan, o sindicato espanhol do setor. Depois da paralisação provocada pela pandemia da Covid-19, a indústria retrocedeu ao nível de atividades do ano 2012. Somente a França e o Reino Unido sofreram uma queda maior que a Espanha durante o primeiro semestre.

 

     Os retrocessos da indústria também se repetiram nos países da América Latina, cujas estimativas prévias de crescimento pioraram paulatinamente conforme o vírus avançava pelo continente. As últimas estimativas da Global Data indicavam que a indústria da construção na América Latina passaria a contrair 11,4% em 2020, em contraste com a previsão anterior, que teve uma queda de 6,6%, e seu prognóstico só piorava, principalmente na lentidão, muito mais do que o esperado para o aumento da atividade na segunda metade do ano.

 

     Além da paralisação geral causada pelo confinamento, a incerteza econômica em geral afetou as intenções de reativação dos projetos. O confinamento deixou não somente as obras desertas, mas também muitas licitações públicas e contratações.

 

     Entretanto, e apesar da desaceleração do crescimento econômico em geral, atualmente, diversos governos seguem em frente com programas de infraestrutura em curto prazo com a intenção de recuperação.

 

     Na América Latina, países como Colômbia, Brasil, Argentina e Chile anunciaram planos e investimentos em infraestruturas com a intenção de sair da crise.

 

     Na Colômbia, o governo anunciou recentemente um ambicioso plano de infraestrutura que contém a maior iniciativa de investimento já realizada em toda a história do país: 29 projetos de construção ou reforma, 5.000 km de estradas, 775 pontes e 41 túneis; o valor total ascendia a 13 bilhões de dólares.

 

     O governo do Brasil também tomou medidas para a renovação antecipada de contratos de concessão com a finalidade de fomentar o investimento em infraestrutura. As concessões ferroviárias foram as primeiras em se renovar antecipadamente. Diferentes grupos de construção de origem espanhola adjudicaram importantes projetos e dentre os que vale mencionar estão as obras de conclusão da construção e operação da linha 6 do metrô de São Paulo por parte da Acciona, no valor de 2,3 bilhões de euros, e que gerará até 9.000 postos de trabalho.

 

     Na Argentina, com a intenção de uma reativação, o governo reforçou o denominado "Plano Argentina Faz" para a execução de pequenas e médias obras em todo o país, enquanto o governo do Chile revelou, recentemente, um plano de retomada econômica de 34 bilhões de dólares para equilibrar os efeitos da COVID-19.

 

     As autoridades do México também apresentaram um plano de infraestrutura com o objetivo de impulsionar a economia com o apoio do setor privado focando, principalmente, na construção, e a estimativa é de que seriam necessários cerca de 13,8 bilhões de dólares. O objetivo é que boa parte desses projetos estejam em andamento em 2021.

 

     A verdade é que, se antes da pandemia a indústria da construção e o investimento em infraestrutura resultava ser um fator chave de produtividade para a maioria das economias, hoje a construção é mais do que nunca uma ferramenta fundamental para conter a dura queda econômica.

 

O apoio do setor de seguros

     As construtoras e demais companhias associadas ao setor e que são consumidoras de seguros estavam sofrendo as consequências da mudança de tendência do mercado, assumindo custos mais altos com seguros próprios ou ficando sem cobertura no pior momento de execução de suas obras.

 

     Por sua própria natureza e elaboração, a indústria da construção está sujeita a ciclos de grandes durações. Na MAPFRE, compreendemos que é importantíssimo considerar esses ciclos. Portanto, é absolutamente indispensável visualizar os produtos associados em longo prazo. Esta visão nos permite absorver os vaivéns aos que, indubitavelmente, o setor está submetido, com a ideia de ajudar os clientes nesses momentos complicados.

 

     Atualmente, a resposta do mercado segurador consiste, basicamente, em adaptar os produtos à situação das obras durante as paralizações e posteriores atrasos que sofrem ou sofrerão.

 

     Quando pudermos afrontar a recuperação, o setor requererá soluções de seguros para as novas construções. Estas soluções deverão estar fortemente ligadas a maiores exigências de controle e melhoria na gestão de riscos por parte dos agentes (administradores, entidades financeiras, engenheiros, contratantes etc.). Tudo isso com o objetivo de diminuir o impacto e paliar, de algum modo, o aumento necessário dos prêmios que os produtos associados ao setor requerem com urgência.

 

     Portanto, agora mais do que nunca, o setor segurador deve continuar apoiando e dando soluções que ajudem a remontar a situação econômica no menor tempo possível.



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