Seguro viagem e tecnologia podem reduzir violência contra motoristas de aplicativos no Brasil


Por Natalino Borring

27/09/2024  às  21:03:58 | | views 7931


@ cottonbro studio

Aumento nos casos de violência contra motoristas que trabalham com o uso de aplicativos de transporte acende um sinal de alerta, seguro e tecnologia são aliados importantes na melhoria da segurança


A popularização dos aplicativos de transportes e o crescente número de pessoas que encontraram na ferramenta uma alternativa de trabalho, resultou também no aumento dos casos de roubo e violência neste setor. De janeiro a junho deste ano, segundo dados do portal da transparência da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, foram registradas 453.148 ocorrências de roubos e furtos. Somente os roubos e furtos de veículo, somaram outros 70.988 casos. Dentre essas ocorrências estão também aquelas envolvendo motoristas de aplicativos, onde são relatadas queixas de agressões por parte de passageiros que questionam, por exemplo, o valor cobrado pela corrida, estupros e falsas viagem, que têm o objetivo de roubar os veículos utilizados no transporte. A grande discussão é o que fazer para mudar essa realidade, evitar prejuízos e danos psicológicos às vítimas, além de melhorar a prevenção? 

 

A realidade dessas novas tecnologias deve também determinar o futuro da mobilidade urbana no Brasil, como já demonstram estudos sobre “carros voadores”. Táxis drones autônomos que estão sendo testados em várias partes do mundo. No Brasil, a fabricante brasileira de aviões Embraer anunciou a construção de uma nova fábrica na cidade de Taubaté, a aproximadamente 140 quilômetros de São Paulo, para produzir esses novos veículos elétricos (Eve Urban Air Mobility). A previsão é que entrem em operação a partir de 2026. Além de alterar os conceitos de mobilidade, o futuro também reservas novas demandas de serviços nas mais diversas áreas, envolvendo Inteligência Artificial (I.A), seguros, segurança e prevenção. 

 

Riscos 

Os riscos envolvendo os usuários de aplicativos começam a ganhar espaço, assim como a busca por soluções que ajudem na proteção de todos os usuários. Recentemente, dois casos de violência ganharam repercussão por envolver motoristas de aplicativos. Um deles foi vivenciado por Larissa Freire, de 26 anos, em Osasco, na grande São Paulo, que sofreu agressões após realizar uma viagem. O outro chamou atenção pela brutalidade de dois assaltantes que se passaram por passageiros e, por meio de aplicativos, contrataram uma viagem da capital paulista até São Vicente, litoral de São Paulo. Ao chegar ao destino, a dupla anunciou o assalto, tirou o motorista do veículo (um senhor aposentado) e passou a espancá-lo. Tudo filmado pelas câmeras de segurança da rua, no domingo dia 22 de setembro. 


Momento no qual motorista é agredida (imagens gravadas no interior do veículo)


Já a confusão com a motorista Larissa Freire ocorreu no dia 21 de setembro, quando um passageiro, acompanhado de uma mulher e uma criança de colo, recusa-se a pagar o valor da viagem e pede para deixar para a próxima vez. Ao ouvir não ser possível por parte da motorista, tenta tirar a mulher do banco de trás do veículo, mas não consegue. Abre a porta, saí e dá vários chutes na porta do carro. Assustada, a motorista arranca com o veículo. O passageiro corre atrás, consegue abrir a porta e retirar a mulher com a criança. Larissa tenta novamente sair com o veículo, mas o agressor entra outra vez no carro para recuperar o celular dele que estava com a motorista. Aplica uma “chave de braço” no pescoço de Larissa, recupera o celular e deixa o veículo. Tudo foi registrado por uma câmera presente no automóvel. 

 

Combate ao crime 

Segundo nota da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, “as forças de segurança estão empenhadas em combater todas as modalidades criminosas no Estado e na capital, com atenção aos roubos e furtos e crimes violentos contra motoristas de aplicativos”. Também informa que os roubos em geral caíram 12,3% e os furtos reduziram 3%, nos primeiros sete meses do ano, nas áreas mencionadas pela reportagem. Ao todo, 42.646 infratores foram presos ou apreendidos, e 3.175 armas de fogo foram retiradas das ruas (aumento de 682 em relação ao mesmo período do ano passado). “A comunicação dos crimes às polícias é imprescindível para que os casos sejam investigados e os responsáveis, presos. O boletim de ocorrência pode ser registrado em delegacias físicas ou por meio da Delegacia Eletrônica”, informa a nota. 

 

Já a multinacional de tecnologia, Uber, lamentou os casos e diz considerar inaceitável o uso da violência contra os motoristas parceiros. Em nota afirmou que assim que a empresa tomou conhecimento das agressões sofridas por Larissa Freire, baniu a conta do usuário da plataforma. Informou também que todas as viagens da plataforma são cobertas por um seguro para despesas médicas, hospitalares e odontológicas, sendo esses serviços disponibilizados para a motorista parceira. A empresa também se colocou à disposição das autoridades para colaborar com as investigações na forma da lei. 

 

“É importante esclarecer que não existe a função de ‘pagar na próxima’ e o aplicativo apenas permite que o motorista informe as situações em que o usuário não honrou o pagamento”, afirma a nota da Uber ao destacar que isso cria um débito na conta do usuário, sendo uma opção do motorista, não uma escolha que cabe ao usuário. “O recurso foi criado pela empresa em 2019 para facilitar a questão do troco e não para incentivar que usuários deixem de pagar viagens. A Uber não recomenda que motorista utilizem essa opção com frequência e sem real necessidade”. 

 

Formas de prevenção 

Na prática, a maior penalidade praticada pela Uber em relação ao mal pagador é o cancelamento da conta, porém medidas de segurança urgentes devem ser repensadas para garantir o bom funcionamento da prestação do serviço e a proteção dos colaboradores. Na opinião do especialista em gestão de risco, Alfredo Chaia, as estratégias de prevenção sempre precisam combinar tecnologia, política interna e treinamento para criar um ambiente mais seguro, tanto para motoristas quanto para passageiros. “É preciso implementar processos mais rigorosos de verificação de identidade e histórico dos motoristas e usuários, como a exigência de um documento oficial, verificação de foto e verificação cruzada com base de dados de segurança”, afirma. 

 

Alfredo Chaia destaca também a importância de parcerias com autoridades locais, além da identificação e mapeamento de áreas de risco de forma rotineira, uma vez que as ações criminosas são dinâmicas. “Os veículos também deveriam ser equipados com botões de emergência, conectados diretamente com a central de segurança da empresa e, em alguns casos com as autoridades locais”, analisa o especialista ao destacar a importância do uso da inteligência artificial para detectar padrões de comportamentos suspeitos, gravações de vídeo e áudio, com aviso visível aos passageiros de que estes estão sendo monitorados e atitudes imediatas diante de quaisquer infortúnios com punições severas aos infratores. 

 

A importância de um seguro, segundo Chaia, é fundamental para garantir a segurança de todos os envolvidos e ao mesmo tempo possibilitar um acolhimento às vítimas, quer seja com tratamento médico ou psicológico e até mesmo de medidas jurídicas. “É fundamental também o incentivo a motoristas e passageiros a oferecer feedback detalhado após cada viagem, como forma a prevenir comportamento inadequados”. 

 

Futuro da mobilidade urbana 


Veículo (modelo EH216-S) realizou dois voos de dez minutos (foto:divulgação)

Se a promessa de carros autônomos ainda engatinha no Brasil, o mesmo não se pode dizer para veículos aéreos. No dia 20 de setembro a empresa chinesa Ehang, fabricante de aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertica (Evtol, siga em inglês) realizou o primeiro voo teste em São Paulo no município Quadra, a cerca de 165 km da capital. Conhecido como “carro voador”, o veículo (modelo EH216-S) realizou dois voos de dez minutos cada e o mais curioso, sem a presença de passageiro ou tripulante a bordo. A aeronave foi pilotada e comandado remotamente, numa demonstração clara sobre o que podemos esperar de futuro na mobilidade urbana. Segundo os representantes da empresa no Brasil, o Evolt vai custar US$ 600 mil, cerca de R$ 3.258.000,00 no câmbio atual e, acredite, já tem fila de espera. 

 

A fabricante chinesa é concorrente da brasileira Eve, controlada pela Embraer. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), já autorizou o voo experimental e a previsão é que as primeiras unidades já comecem a entrar em operação em 2026. 

 

A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) acredita que o futuro das soluções de transporte passa pela nova mobilidade, que consiste na integração abrangente e estratégica de tecnologias no setor, capazes de construir uma mobilidade urbana mais eficiente, democrática e multimodal. Com isso, acredita que os serviços de transporte público devem se tornar mais dinâmicos, integrados e planejados entre regiões e modais, considerando a complementaridade entre público e privado. Segundo a associação, para que isso ocorra, a integração deve incorporar as novas tecnologias do setor e poderá ser facilitada através de conexões físicas, pagamentos e informações combinadas. 

 

A Amobitec considera que a utilização de aplicativos de smartphones para informações sobre mobilidade em tempo real, o pagamento de transporte, os serviços de compartilhamento de veículos e entrega sob demanda, entre outras iniciativas, são destaques dessa nova mobilidade. "Devemos seguir buscando, de forma sempre equilibrada, melhorias para os milhões de brasileiros que encontraram nos aplicativos novas formas de mobilidade e de geração de renda, com a garantia da segurança jurídica necessária para a manutenção do modelo de negócios", afirma André Porto, diretor-executivo da associação. 

 

Com o objetivo de evitar infortúnios entre usuários e prestadores de serviços, a Amobitec informou que as empresas associadas têm como prioridade a segurança de profissionais parceiros e usuários. São oferecidos canais de comunicação para que motoristas e usuários possam reportar qualquer tipo de conduta inadequada. As plataformas também contam com equipes especializadas para dar suporte e colaborar com autoridades em casos de investigação. 

 

 

 



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