Republicano foi uma das figuras mais influentes e controversas da política americana nas últimas décadas
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Dick Cheney, um dos principais articuladores da invasão do Iraque em 2003 e considerado por analistas o vice mais poderoso da história americana, morreu aos 84 anos, em decorrência de complicações de pneumonia e doenças cardíacas e vasculares. A informação foi confirmada por sua família nesta terça-feira (4).
Figura central no governo George W. Bush (2001–2009), Cheney foi um símbolo da ala mais dura do Partido Republicano e um dos principais defensores da doutrina da guerra preventiva após os atentados de 11 de setembro. Sua influência moldou a política externa dos Estados Unidos durante a chamada “guerra ao terror”, com efeitos ainda sentidos duas décadas depois.
Ex-congressista e ex-secretário de Defesa, Cheney chegou à vice-presidência com extensa experiência em Washington e a convicção de que o poder presidencial havia sido enfraquecido desde o escândalo de Watergate. No governo Bush, estruturou um núcleo paralelo de segurança nacional dentro da Casa Branca, que atuava de forma independente e, muitas vezes, rivalizava com o Departamento de Estado.
Sua marca mais polêmica foi o apoio à invasão do Iraque, sob a justificativa de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa — alegação jamais comprovada. O episódio manchou sua trajetória e o transformou em personagem controverso, admirado por setores conservadores e criticado por defensores dos direitos humanos.
Cheney também sustentou o uso de técnicas de interrogatório consideradas tortura, como o afogamento simulado (waterboarding), em nome do combate ao terrorismo. As práticas foram condenadas por organismos internacionais e pelo Senado dos EUA.
A postura implacável contrastava com o pragmatismo político da filha, Liz Cheney, ex-deputada e uma das principais vozes republicanas contra Donald Trump. Após votar pelo impeachment do ex-presidente, ela perdeu o mandato. Cheney apoiou publicamente a decisão da filha e afirmou que votaria na democrata Kamala Harris nas eleições de 2024.
“Em quase dois séculos e meio de história americana, nunca houve alguém que representasse uma ameaça maior à nossa República do que Donald Trump”, declarou o ex-vice-presidente em 2023.
Com histórico de problemas cardíacos desde os 37 anos, Cheney passou por um transplante de coração em 2012. Sua morte encerra o ciclo de uma das figuras mais duradouras e polarizadoras da política dos Estados Unidos — lembrado tanto pela ambição em expandir o poder do Executivo quanto pelo legado controverso deixado no Oriente Médio. (Com Agências Internacionais)