Rombo de R$ 47,1 bilhões em junho expõe desequilíbrios estruturais nas conta do governo e acende alerta
O setor público brasileiro voltou a registrar números preocupantes em junho, reforçando os sinais de fragilidade na condução da política fiscal. Segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta quinta-feira (31), o déficit primário do setor público consolidado — que inclui União, estados, municípios e estatais — foi de R$ 47,1 bilhões no mês. O resultado representa deterioração frente ao mesmo mês de 2024, quando o rombo havia sido de R$ 40,9 bilhões.
A piora, ainda que esperada em meio à expansão de despesas, mostra um descompasso persistente entre gasto público e capacidade arrecadatória. Com a arrecadação praticamente estável e os gastos crescendo acima da inflação, o país retoma uma trajetória fiscal que pressiona a dívida pública e compromete a credibilidade diante de investidores e agências de rating.
Trajetória da dívida preocupa o mercado
Mesmo com algum alívio no resultado acumulado de 2025 — que ainda mostra superávit de R$ 22 bilhões — o pano de fundo preocupa: em 12 meses encerrados em junho, o resultado nominal das contas públicas foi deficitário em R$ 894,3 bilhões, o equivalente a 7,3% do PIB. A dívida bruta do governo geral atingiu 76,6% do PIB, uma escalada que recoloca o Brasil no radar das agências de classificação de risco.
O aumento na dívida foi impulsionado não apenas pelo déficit primário, mas também pelo efeito da apreciação cambial. A dívida líquida chegou a 62,9% do PIB em junho, maior patamar da série histórica iniciada em 2001.
O movimento é especialmente preocupante em um ambiente de juros ainda elevados — a Selic está em 10,50% ao ano — o que torna mais caro o serviço da dívida. Em junho, os gastos com juros somaram R$ 61 bilhões, embora tenham sido atenuados por ganhos com operações de swap cambial, que ajudaram a amortecer o impacto na comparação com junho de 2024, quando essa despesa havia alcançado quase R$ 95 bilhões.
Rombo espalhado entre esferas de governo
O déficit primário do Governo Central (R$ 43,5 bilhões) foi o principal motor do resultado negativo, puxado pela alta das despesas e queda na receita com dividendos de estatais e bancos públicos. Estados e municípios também contribuíram para o quadro adverso: os governos estaduais, que haviam registrado superávit em junho de 2024, voltaram ao vermelho com déficit de R$ 1,35 bilhão. Já os municípios apresentaram leve superávit de R$ 400 milhões, incapaz de compensar o desempenho negativo dos demais entes.
As empresas estatais (exceto Petrobras e Eletrobras) também agravaram o quadro, com déficit de R$ 2,6 bilhões. O dado reforça a discussão sobre o papel das estatais no equilíbrio fiscal e sua eficiência operacional.
Sinais contraditórios no semestre
O saldo positivo no acumulado de 2025 é, em grande parte, reflexo de um fator não recorrente: o diferimento do pagamento de precatórios. No ano passado, a antecipação desses pagamentos em fevereiro pressionou as contas do primeiro semestre. Neste ano, o grosso do pagamento — estimado em R$ 63 bilhões — está previsto para o segundo semestre, o que deve comprometer a folga momentânea nas contas públicas.
Mercado observa e cobra ajuste estrutural
A deterioração do quadro fiscal levanta dúvidas sobre a eficácia das medidas de ajuste propostas pelo governo. A insistência em receitas extraordinárias, aliada à resistência em cortar gastos obrigatórios, não resolve o problema estrutural. O novo arcabouço fiscal, embora mais realista que o teto de gastos, ainda carece de credibilidade diante da frágil execução.
Com os dados mais recentes, o governo enfrenta o desafio de demonstrar compromisso efetivo com a sustentabilidade fiscal. O mercado observa com cautela: sem um ajuste crível, a pressão sobre os juros futuros pode se intensificar, minando as condições para crescimento econômico e avanço no investimento produtivo.