IGP-M recua, mas ainda distorce reajuste de aluguéis
Por Redação
27/06/2025 às 09:54:45 | | views 906 @Freepik
Com forte influência do setor agropecuário, índice registra a maior deflação mensal em um ano e reabre debate sobre mecanismos de reajuste contratual
O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), principal referência para o reajuste de aluguéis residenciais e comerciais no Brasil, registrou queda de 1,67% em junho. A deflação, a maior desde junho de 2023, confirma uma tendência de desaceleração que se intensifica desde março e reacende discussões sobre a aderência do índice às dinâmicas do custo de vida nas cidades.
Calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o IGP-M acumulou avanço de 4,39% em 12 meses — bem abaixo dos 8,58% registrados em março. Ainda assim, o índice continua sendo usado como base automática para reajustes contratuais, apesar das críticas de que sua composição está cada vez mais distante da realidade enfrentada por inquilinos urbanos.
Composição do índice distorce impacto no consumidor final
O principal componente do IGP-M é o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), responsável por 60% do cálculo e que reflete a variação de preços no atacado, principalmente no setor agropecuário. Foi justamente esse setor que puxou a deflação de junho, com queda de 4,48% nos preços dos produtos do campo. O milho, por exemplo, recuou quase 17% no mês. O café em grão, quase 11%.
Essa forte oscilação no campo nem sempre se traduz de maneira proporcional no custo de vida das famílias. Ainda assim, é usada como critério para atualizar contratos de aluguel em áreas urbanas, o que reforça a crítica à desconexão entre o índice e o cotidiano do locatário.
Alimentos pressionam para baixo, mas construção segue em alta
Outro componente do IGP-M é o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que representa 30% da fórmula e teve queda de 0,19% em junho. O recuo foi puxado por alimentos como tomate (-7,20%), ovos (-7,60%) e arroz (-3,78%), beneficiados pela expectativa de safra recorde no país. “O avanço das safras tem alimentado expectativas de maior oferta, pressionando os preços para baixo”, explica Matheus Dias, economista do FGV Ibre.
O único item com alta expressiva foi o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que subiu 0,96% no mês, impulsionado principalmente por reajustes salariais no setor da mão de obra (alta de 2,12%). Materiais, equipamentos e serviços subiram discretamente (0,13%).
Reajuste automático e falta de alternativas
Apesar da queda, muitos contratos imobiliários seguem sendo reajustados pelo IGP-M automaticamente, sem negociação entre as partes. A prática tem sido questionada por especialistas, que defendem o uso de índices mais alinhados ao consumo urbano, como o IPCA, usado como referência para a meta de inflação do Banco Central.
A falta de regulamentação clara para locações privadas deixa brechas para aumentos acima da inflação oficial, mesmo em cenários de deflação como o atual. Na prática, a queda do IGP-M pode representar alívio pontual para inquilinos em processo de renovação contratual, mas não corrige a assimetria estrutural no modelo de reajuste.