Mercado projeta alta tímida do PIB em 2025


Por Redação

09/06/2025  às  10:17:39 | | views 257


@Daniel Dan/pexels

Crescimento modesto e manutenção da Selic em patamar elevado revelam entraves estruturais da política econômica brasileira


Apesar de um cenário de recuperação econômica puxado pelo agronegócio, o mercado financeiro revisou levemente para cima a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, passando de 2,13% para 2,18%, segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (9) pelo Banco Central. A projeção para a inflação, por sua vez, segue acima da meta oficial para o ano, enquanto os juros básicos continuam em níveis considerados sufocantes para a atividade econômica.

 

A revisão positiva do PIB, embora comemorada por setores do governo, reflete mais uma inércia de dados passados do que uma aceleração consistente. O crescimento de 1,4% no primeiro trimestre de 2025, impulsionado majoritariamente pela agropecuária, contrasta com a estagnação de outros setores e não representa um avanço sustentável no conjunto da economia. Além disso, o mercado segue projetando um crescimento abaixo de 2% para 2026, sinalizando pouca confiança no médio prazo.

 

Inflação persistentemente alta e fora da meta

O dado mais preocupante permanece sendo a inflação. A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025 caiu de 5,46% para 5,44%, mas ainda está acima do teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, de 4,5%. Em abril, a inflação acumulada em 12 meses ficou em 5,53%, com forte impacto dos alimentos e remédios.

 

Apesar de uma desaceleração nos últimos meses, o controle da inflação tem se mostrado ineficiente, em parte porque a resposta do Banco Central continua centrada em uma política monetária ortodoxa, que privilegia juros altos sem resultados proporcionais no alívio dos preços.

 

Selic elevada: contenção da inflação à custa do crescimento

Com a taxa Selic mantida em 14,75% ao ano — uma das mais altas do mundo —, o Banco Central segue impondo um freio de mão à economia. O Comitê de Política Monetária (Copom) já elevou os juros seis vezes consecutivas, mesmo diante de sinais de desaceleração e das pressões do custo de vida.

 

A justificativa da autoridade monetária é conter expectativas inflacionárias, mas especialistas alertam que o impacto principal da Selic elevada é a retração do crédito, a inibição do consumo e o desestímulo ao investimento produtivo. “Não se combate inflação de alimentos com juros altos. Isso só penaliza o setor produtivo e os consumidores”, resume um economista ouvido pela reportagem.

 

A estimativa do mercado é que a taxa permaneça nos atuais 14,75% até o fim de 2025 — um indicativo de que a prioridade segue sendo o controle fiscal e a proteção aos investidores, mesmo em detrimento do crescimento e do emprego.

 

Dólar em alta e cenário fiscal instável

Outro fator que pressiona a economia é a valorização do dólar. A moeda norte-americana deve encerrar 2024 em R$ 5,80, chegando a R$ 5,89 em 2026, segundo projeções do Focus. A combinação de juros elevados, inflação acima da meta e câmbio pressionado alimenta a instabilidade macroeconômica e pode minar qualquer avanço estrutural no médio prazo.

 

Enquanto isso, o discurso oficial do governo tenta atribuir os desequilíbrios atuais a “heranças fiscais” do passado, mas a falta de uma estratégia clara para estimular setores estratégicos da economia, revisar a política de juros e enfrentar as distorções no mercado de crédito preocupa analistas.

 

Crescimento desigual, política hesitante

O quadro geral revela um país que cresce pouco, com inflação resiliente e juros impeditivos. A recuperação recente, ancorada na agropecuária, escancara a dependência de setores primários, enquanto a indústria e os serviços seguem estagnados. A política monetária continua rígida, mesmo diante de um mercado de trabalho fragilizado e de um consumo das famílias que não se recuperou integralmente desde a pandemia.

 

Para especialistas, o Brasil precisa urgentemente de uma estratégia econômica mais equilibrada, que combine responsabilidade fiscal com estímulos ao crescimento sustentável e redução das desigualdades.



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