Acidentes de trabalho disparam e expõem falhas graves na prevenção
Por Redação
27/05/2025 às 08:34:00 | | views 792 @divulgação/get comunicações
Brasil registrou mais de 720 mil ocorrências em um ano; especialistas alertam para negligência, falta de conscientização e necessidade de integrar a segurança ao dia a dia das empresas
A segurança no ambiente de trabalho continua sendo um desafio para empresas e trabalhadores no Brasil. De acordo com dados recentes do Ministério do Trabalho e Emprego, o país registrou 724.228 acidentes de trabalho apenas no último ano. O dado reforça a necessidade de medidas preventivas e o cumprimento rigoroso das normas de segurança ocupacional.
Setores como a indústria, construção civil, saúde e comércio estão entre os mais afetados, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Mãos, braços e pernas são as partes do corpo mais atingidas. Além do impacto direto na saúde dos trabalhadores, os acidentes geram afastamentos prolongados, prejuízos à produtividade e aumento de litígios na Justiça do Trabalho.
Responsabilidade legal e moral
A legislação brasileira impõe obrigações rígidas aos empregadores. O fornecimento e uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPIs) e coletiva (EPCs), treinamentos regulares, inspeções técnicas e planos de emergência estão entre as exigências. O descumprimento pode resultar em multas, interdições e processos judiciais, incluindo responsabilização criminal.
Segundo a advogada trabalhista Raquel de Lucca, falhas na gestão de riscos podem gerar condenações por danos morais, materiais e estéticos, além de sanções penais. Ela lembra que a legislação garante ao trabalhador acidentado estabilidade de 12 meses após o retorno do afastamento, manutenção do FGTS durante o período e possibilidade de indenização, caso seja comprovada a negligência por parte da empresa.
Falta conscientização e infraestrutura
Mesmo com a legislação em vigor, especialistas apontam que muitas empresas ainda enfrentam dificuldades na aplicação prática das normas. Para João Marcio Tosmann, CEO da empresa de segurança industrial Tagout, a conscientização dos colaboradores continua sendo um dos principais desafios.
“Em muitos casos, os próprios trabalhadores subestimam os riscos e acabam ignorando os procedimentos de segurança”, afirma Tosmann. Ele também destaca a dificuldade em padronizar os protocolos em ambientes com grande número de máquinas e processos operacionais.
Outro obstáculo identificado por especialistas é a percepção da segurança como um custo e não como um investimento. Tosmann acredita que essa visão precisa mudar: “Frequentemente, medidas de prevenção só são adotadas após a ocorrência de um acidente grave, o que revela a urgência de incorporar a segurança à cultura organizacional.”
Tragédias evitáveis
Casos de negligência em segurança do trabalho podem ter consequências graves. Roberto Mariani, diretor de Recursos Humanos, relata a experiência de uma empresa que enfrentou a perda de um colaborador em um acidente fatal. Segundo ele, o episódio abalou profundamente o clima interno.
“O impacto foi enorme: funcionários inseguros, ambiente emocionalmente fragilizado, afastamentos e necessidade de apoio psicológico. Tudo isso poderia ter sido evitado com medidas simples e eficazes”, afirma. A investigação do acidente revelou falhas no sistema de alimentação de ar comprimido, comunicação deficiente e ausência de mecanismos de segurança adequados.
Mariani reforça que o comportamento humano ainda é uma variável crítica: “Muitos profissionais acreditam que nada vai acontecer com eles — até que acontece.”
Normas técnicas como aliadas
Cumprir as normas regulamentadoras é essencial para a criação de ambientes seguros. Diretrizes como a NR-10 (segurança em instalações elétricas), NR-12 (máquinas e equipamentos), NR-33 (espaços confinados), NR-35 (trabalho em altura) e a recém-atualizada NR-1 (gestão de riscos e saúde mental) estabelecem padrões técnicos obrigatórios. Normas internacionais, como a ISO 45001 e diretrizes da OSHA (Occupational Safety and Health Administration), também são adotadas por empresas que buscam ampliar o nível de segurança.
Tosmann destaca que a adoção de ferramentas como mapas de bloqueio, treinamentos práticos e monitoramento contínuo pode complementar a legislação. Para ele, “mais do que atender à lei, é necessário transformar a segurança em parte da cultura das empresas”.
Riscos psicossociais e saúde mental
A gestão de riscos psicossociais, como estresse, sobrecarga de trabalho e ausência de apoio emocional, passou a integrar as obrigações das empresas com a atualização da NR-1. A norma reconhece a saúde mental como fator de risco e estabelece diretrizes para monitoramento e prevenção.
Medidas como programas de apoio psicológico, treinamentos sobre saúde emocional e ações para o equilíbrio da carga de trabalho são apontadas por especialistas como formas eficazes de reduzir acidentes decorrentes do esgotamento físico e mental.
A psicóloga organizacional Letícia Andrade reforça que o bem-estar emocional influencia diretamente na atenção e tomada de decisão no ambiente de trabalho. “Profissionais sobrecarregados cometem mais erros. Prevenir isso é também uma estratégia de segurança.”
Valor estratégico
Para os especialistas ouvidos nesta reportagem, a segurança no trabalho deve ser vista não apenas como uma obrigação legal, mas como uma diretriz estratégica. Empresas que investem em prevenção tendem a reduzir custos com afastamentos, melhorar a produtividade e fortalecer sua reputação.
“Transformar a segurança em valor corporativo exige comprometimento da liderança, engajamento dos colaboradores e investimentos contínuos em capacitação e estrutura”, conclui Tosmann.