07/04/2025 às 11:45:12 | | views 985 @Sindicato de Jornalistas Palestinos
Desde outubro de 2023, mais de 200 jornalistas foram mortos em Gaza, revelando a gravidade dos riscos enfrentados por profissionais da imprensa em zonas de conflito.
Cobrir conflitos armados sempre foi uma tarefa perigosa — mas na Faixa de Gaza, ser jornalista é uma sentença de risco constante. Desde o início da nova escalada do conflito entre Israel e o Hamas, em outubro de 2023, a profissão tornou-se uma das mais letais do mundo. O número crescente de jornalistas mortos, feridos ou silenciados expõe a brutalidade de uma guerra onde a informação se torna alvo.
De acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), mais de 210 jornalistas foram mortos na Palestina desde o início da ofensiva israelense em outubro de 2023 — um número sem precedentes. Só em 2024, o CPJ registrou o ano mais mortal para a profissão desde o início de seus levantamentos. Cerca de 70% dessas mortes foram causadas por ataques israelenses, muitas vezes durante bombardeios em áreas densamente povoadas ou mesmo em instalações com clara identificação da imprensa.
O episódio mais recente e trágico ocorreu em abril de 2025, quando um ataque aéreo atingiu uma tenda de imprensa no complexo do Hospital Nasser, em Khan Younis, matando ao menos 10 pessoas, entre elas o jornalista Helmi al-Faqawi. Outros repórteres ficaram feridos, reacendendo críticas internacionais sobre o respeito às normas de proteção a profissionais da mídia em zonas de guerra.
Intimidações, Prisões e Ferimentos
As mortes são apenas a face mais visível da violência contra jornalistas na região. Centenas de outros enfrentam detenções arbitrárias, ameaças constantes, ataques físicos e psicológicos, além da destruição de equipamentos e redações. A impunidade generalizada alimenta um ciclo de medo e silenciamento, dificultando o trabalho de quem tenta mostrar ao mundo o que se passa em Gaza.
Mulheres correm mais riscos
Para mulheres jornalistas, o cenário é ainda mais hostil. Elas enfrentam os mesmos riscos que seus colegas homens — e muitos outros. Em meio à violência de uma guerra, lidam também com o peso de uma estrutura social patriarcal que limita sua atuação, além de sofrerem assédio sexual, discriminação e desconfiança, inclusive dentro das próprias redações.
Organizações como Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciam que mulheres jornalistas na Palestina vivem sob ameaça constante, sendo frequentemente alvos de violência física e psicológica. Em Gaza, o controle da imprensa pelo Hamas impõe ainda mais barreiras: as jornalistas precisam negociar não apenas com a censura do regime, mas com o preconceito arraigado que questiona sua presença no front.
Impacto Psicológico
O trauma emocional de cobrir uma guerra não pode ser subestimado. Muitos jornalistas desenvolvem transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), lidando com sintomas como insônia, ansiedade e depressão. A constante exposição à dor e à morte, combinada com a sensação de impotência e isolamento, cobra um preço alto — especialmente das mulheres, que muitas vezes não encontram redes de apoio adequadas para lidar com o sofrimento.
Censura e manipulação
A liberdade de imprensa é duramente atacada em ambos os lados do conflito. Em Gaza, o Hamas controla rigidamente os veículos de comunicação, dificultando reportagens críticas ou independentes. Já jornalistas que tentam cobrir os danos civis provocados por bombardeios israelenses enfrentam bloqueios, retaliações e, em muitos casos, censura explícita de imagens e relatos.
A manipulação da narrativa e o uso da informação como arma de guerra tornam o trabalho jornalístico um campo minado — literal e metaforicamente.
Lutando pela vida
Organizações internacionais continuam apelando por responsabilização e proteção a jornalistas. O CPJ, a RSF e outras entidades exigem investigação séria de cada morte, ataques a redações e denúncias de assédio. Em especial, pedem ações concretas para garantir a segurança das mulheres jornalistas, cujos desafios são muitas vezes negligenciados em políticas de proteção. Mas a escalada da violência e o desinteresse de muitos atores internacionais, descrendeciam qualquer tentativa de paz.
Ser jornalista na Palestina e na Faixa de Gaza não é apenas uma profissão, mas um ato de resistência. Em um cenário de censura, violência e impunidade, esses profissionais arriscam tudo para manter o mundo informado. Eles são as vozes de uma população sufocada, os olhos do mundo em uma guerra que insiste em se esconder nos escombros.
Proteger o jornalismo é proteger a verdade. E num mundo cada vez mais polarizado, onde as narrativas disputam espaço com os fatos, nunca foi tão urgente garantir que esses profissionais possam continuar fazendo seu trabalho — vivos. (Com Agência Internacionais)