Disputa política agressiva não é inédita, diz professora da USP
Por Redação
18/09/2024 às 08:25:05 | | views 936
Para Aparecida Aquino, fator novo está na forma massiva de divulgação
Para Aparecida Aquino, fator novo está na forma massiva de divulgação
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A agressividade e a violência na disputa política brasileira não são comportamentos inéditos na história do Brasil, diz a professora de história contemporânea da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) Maria Aparecida de Aquino. Para ela, o fator novo na atual disputa eleitoral está na forma massiva de divulgação das ações violentas por meio das mídias tradicionais ou pelas redes sociais.
“Existem outros momentos na história política brasileira, história republicana, que você tem violência política e violência inclusive em processos eleitorais. Se você for considerar, por exemplo, o pleito para a Presidência da República em 1989, que é o primeiro depois da ditadura, ele foi bastante agressivo, inclusive entre os participantes”, lembra.
Aparecida também lembra as disputas políticas na década de 1950, quando o jornalista e político Carlos Lacerda fazia oposição ferrenha a Getúlio Vargas. “Se você pensar numa figura como a de Carlos Lacerda, ele ‘batia no fígado’. Afetava as pessoas de maneira brutal. E isso era uma prática dele. E ele agiu dessa forma e era extremamente violento. Alguns dizem, inclusive, que em 1954, ele foi um dos elementos muito responsáveis pelo episódio que vai levar ao suicídio de Getúlio”.
Segundo a professora, os exemplos mostram que a violência política e eleitoral não é uma prática distante do que a sociedade brasileira está vivenciando atualmente. “Só que hoje temos uma coisa que não havia naquela época: você tem uma transmissão direta pela TV, existem as redes sociais e esse processo é bastante aumentado”.
“Eu diria que o ineditismo está na forma como tudo vai ser mostrado. Então, por exemplo, em 1989 você tem a TV já bastante forte e ativa, mas você não tem as redes sociais. A situação atual tem de ineditismo essa questão da forma de divulgação dessa violência política”.
Combate à agressividade
Na noite do último domingo (15), no debate eleitoral promovido pela TV Cultura com os candidatos à prefeitura da capital paulista, uma discussão entre José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB) terminou em agressão física. Após uma série de acusações feitas por Marçal contra a reputação de Datena, o candidato do PSDB deu uma cadeirada no candidato do PRTB, revelando total descontrole do jornalista e apresentador da TV Bandeirantes.
De acordo com a professora, há instrumentos disponíveis à sociedade para o combate de comportamentos agressivos como o registrado no último domingo. No entanto, ela ressalta que esses recursos não estão sendo utilizados.
“Existem coisas muito simples que poderiam ser feitas e que, de certa forma, não fariam com que chegássemos aos episódios recentes que estamos vendo. O candidato que cometesse uma ofensa deveria ter a palavra cortada. Isso seria um recurso extremamente simples, que poderia ser feito e acabaria com essa situação louca que nós estamos vivenciando hoje. Temos recursos, sim. É que eles não estão sendo utilizados”, comenta Maria Aparecida.
O problema é que, na maioria dos casos, as ofensas continuam sendo realizadas mesmo quando há um corte no som dos microfones. Esse tipo de "tática", utilizada por praticamente todos os candidatos, nos mais diversos pleitos, visa atrapalhar o discurso e desestabilizar o oponente. Não são raros os casos, nos quais tal comportamento ocorre em debates televisivos, onde a plateia se manifesta durante a fala dos candidatos, mesmo com a orientação explicita dos apresentadores para que não haja nenhuma manifestação desse tipo. Observando por esse viés, as provocações do candidato Marçal não fogem à regra de eleições polarizadas, em que há poucas diferenças percentuais entre os concorrentes. O que torna o fato realmente absurdo é a agressão física, onde a integridade física dos participantes não foi respeitada ou sequer protegida. (Com Agência Brasil)
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